quarta-feira, junho 28, 2006

# LXXXIII - Divos - Três - Ney Matogrosso


(Ney Matogrosso)

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Assisti, no Coliseu do Porto, a uma actuação do Chico Buarque. Desilusão...
Assisti, no Coliseu do Porto, a uma actuação do Ney Matogrosso. Encantamento...
Para mim, o Ney é o expoente máximo da interpretação masculina da mpb. O Chico Buarque é, novamente no meu muito humilde apreciar destas coisas, um expoente na criação das músicas/letras da mpb. Mas não o aprecio - ao Chico - enquanto cantor. Muito menos ao vivo. Melhor dito, às vezes até o ouço (gravado) . Ao Ney, ouço-o sempre, com prazeres redobrados a cada audição. E ao vivo, deliro com ele.
Se se juntar a genialidade das canções do Chico Buarque à arte superior de interpretação do Ney Matogrosso, só podemos ter um produto de excelente qualidade. É o que acontece no disco do Ney a cantar as canções do Chico - Um brasileiro.

Desse cd, um cheirinho do Construção - o melhor do Chico, no melhor do Ney.


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CONSTRUÇÃO
Letra e música:
Chico Buarque


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado





4 comentários:

AnaCristina disse...

O meu pai proibia-me de ver os espectáculos que, há uns anos, davam na RTP...
Isso só fez com que a minha paixão por ele aumentasse.
É fascinante!

eli disse...

quão privilegiada me senti, quando, no Coliseu, vivi o espectáculo do Ney!

António Ferra disse...

Boas observaçãoes e belíssima escolha musical. Abraço do
António

IC disse...

Já vi Ney Matogrosso actuar (não consigo lembrar quando) e achei espectacular. Ao Chico, nunca vi. Mas confesso que tenho cds do Chico e creio que nenhum do Ney, o Chico, para mim, é um dos "máximos" (dos brasileiros), talvez seja, como dizes, pela genialidade das suas canções.