segunda-feira, junho 19, 2006

# LXXIII - Desolado...


(Ridiculo, de Liliana Wilson )


Ando desolado.

Não é que a Sr.ª Ministra da Educação me anda a estragar a vida?

Eu explico… sou professor. Mas também – e acima de tudo, diria eu – sou pai de quatro rebentos. No próximo ano lectivo poderei ter os 4 filhos a frequentar a escola. Como vou proceder a uma avaliação minimamente responsável dos professores de todos eles?

Se a senhora ministra – ainda por cima, patroa! – me pede ajuda (uma vez que os seus quadros não conseguem fazer o que lhes compete) enquanto pai, terei que corresponder ao apelo.

Mas eu, que tenho o raio da mania de fazer as coisas de forma responsável, já começo a ficar ansioso. Como avaliarei tanto professor? E não me posso esquecer que eles – professores – desempenham cargos para além das aulas. Cada um terá um director de turma, outros dos meus filhos contactarão com professores na sala de estudo, na biblioteca, outros no desporto escolar, outros em visitas de estudo, muitos em aulas de substituição… E eu a avaliar estes professores todos! Terei que me munir de grelhas de observação de aulas, grelhas para actividades não lectivas, questionários, até aparelhos de alta tecnologia (para gravar algumas prestações dos ditos professores – senão corro o risco de me esquecer de pormenores, de trocar nomes, sei lá, e desgraçar a vida a algum professor por incúria minha…e isso eu não quero!). Mas eu não tenho nada disso preparado… nem tenho jeito para gravações… ou me foge a imagem, ou o som não se percebe… Ando mesmo desolado. Vou ter que investir as férias na construção das tais grelhas, perder-me nos manuais das câmaras de vídeo, …(ainda não vai ser nestas férias que vou ler os livros que comprei ao Círculo de Leitores!).

E, para ser um funcionário que orgulhe a minha patroa, vou ficar para sempre estagnado no mesmo escalão. Como é que posso avaliar os professores dos 4 sem faltar lá na minha escola? Além de me impedirem a progressão – as faltas – ainda me arrisco a levar negativa na avaliação dos pais dos meus alunos. Definitivamente, não vou ser aumentado nos próximos 16 anos (enquanto tiver filhos em idade escolar!). Isto porque lá onde a Sr.ª Ministra trabalhava - no Ensino Superior - corre tudo muito bem e não há qualquer necessidade dos pais avaliarem os Senhores Doutores - por extenso! - catedráticos. Se se lembrarem disto, então é que vou ter uma trabalheira danada. Imagine-se que um deles entra na Universidade do Algarve, outro na do Minho, outro em Lisboa e o quarto na Madeira?

Ando mesmo muito desolado!

9 comentários:

Amélia disse...

Como eu o entendo, colega!!!-:))

soledade disse...

A propósito de avaliações: acabam de fazer exame os meus alunos de PortuguêsA e de PortuguêsB. A pequenada saiu contente (o que não quer dizer muito, mas confiemos) e já tive a 1ª avaliação materna e incisiva, à saída da escola: «Torturou-os com a tlebs e nem uma pergunta sobre gramática! Outros profs foram muito menos exigentes!» Foi nice ouvir isto! Por acaso havia um lamiré tlébico, embora muito soft. E não me apeteceu explicar à sra que o exame de PortuguêsB foi bastante cagativo (desculpem a grosseria)para que a m* política não viesse ao de cima.
Avaliemos, pois!

tsiwari disse...

Amélia : sempre doce **

soledade: e por acaso o que ensinou visava apenas o exame? Então o que aprenderam sobre a nova terminologia não lhes será, nunca, de qualquer utilidade uma vez que não exibiram os seus conhecimentos neste exame? Não haverá desinformação por parte dessa Enc de Educação?

IC disse...

Tsiwari, andas desolado, pois eu fiquei foi preocupada, com essas tecnologias, gravações ilícitas, etc., ainda tens que me dar a morada da prisão onde irás parar para te visitar, que isto de um colega entre as grades não pode passar por menos! [risos]
A propósito, e agora a sério, disseram-me que presidente do CE e professores que deixaram pôr câmaras nas salas de aula daquela escola onde foi mostrada a violência numa reportagem na TV estão com processos disciplinares. Será verdade? Se tiveres conhecimento, diz lá no meu cantino, pois gostava de saber se já chegámos a tal ponto.

Aires Montenegro disse...

Desolado, pois claro! Mas que raio de ministério é este? (ou será mistério?) Eu juro que não tenho culpa nos traumas que me parecem sustentar estas medidads todas!... Ou terei, sem o saber?

CAP disse...

Je suis désolé, moi aussi.

soledade disse...

Tsiwari, já que falamos nisso, um dos efeitos colaterais dos exames é justamente o risco de afunilamento do curriculum. E, mesmo no que se refere à controversa TLEBS, parece-me, como dizia o velho aforismo, que o saber não ocupa espaço. Mas não é essa a perspectiva dos pais em geral. Em todo o caso, foi instrutivo.

soledade disse...

Ana, quanto à tlebs, penso que tem aspectos muito úteis, sobretudo no que se refere à pragmática textual. Mas a terminologia foi implementada de um modo atabalhoado, sem qualquer didactização. O que é interessante matéria de discussão em cursos de linguística, não funciona como gramática pedagógica. A bem dizer, foi um pesadelo trabalhar nas condições em que tivemos de o fazer neste ano e meio, em grande parte graças à TLEBS. Vamos ver como será este ano.

saltapocinhas disse...

tens toda a razão e não sei como te ajudar... Eu já não tenho filhos na escola por isso esse problema não me aflige. Mas vou ter outro: como a maioria dos pais me pede sempre para ser eu a preencher TODOS os papéis, porque eles não sabem, então vou ter de preencher os da minha própria avaliação. Também estou desolada! ;-)