terça-feira, junho 13, 2006

# LXV - E foi-se, sem outro adeus, há um ano atrás


(Eugénio de Andrade)


(Em Aveleda, Penafiel - Set 05)

Adeus

Como se houvesse uma tempestade

escurecendo os teus cabelos,

ou, se preferes, minha boca nos teus olhos

carregada de flor e dos teus dedos;


como se houvesse uma criança

cega aos tropeções dentro de ti,

eu falei em neve - e tu calavas a voz

onde contigo me perdi.


Como se a noite se viesse e te levasse,

eu era só fome o que sentia;

Digo-te adeus, como se não voltasse ao país

onde teu corpo principia.


Como se houvesse nuvens sobre nuvens

e sobre as nuvens mar perfeito,

ou, se preferes, a tua boca clara singrando

largamente no meu peito.

5 comentários:

Teresa Lobato disse...

Eugénio sempre esteve na primeira linha dos meus poetas. Pela luz que irradia, pela claridade das coisas, pela doçura das palavras, pela música contida nos seus versos.
Posso percorrer Ruy Belo, Sophia, tantos outros mais, mas regresso sempre à sua ternura infinda, às palavras que estão sempre no lugar certo, na medida certa. Ponto.

IC disse...

Foi bom, ao vir aqui, encontrar esta lembrança.
Abraço.

amigona avó e a neta princesa disse...

Gostei de ler... é um dos meus poetas que às vezes percorro...

Aires Montenegro disse...

Claro: o Eugénio é o Eugénio.
Para dizer também: aqui estou!
Eugénio disse-o assim:
"Aproxima-te, põe o ouvido na minha boca,
vou dizer-te um segredo, (...)
("Branco no Branco" - 1984)
Um abraço.

Anónimo disse...

Que lindo Poema...vou te add nos meus favoritos!