domingo, novembro 26, 2006

# CLXVI - Divas - Dezasseis - Aldina Duarte


(Sorria enquanto escrevia a dedicatória...)


Na sua mais recente passagem pela Casa da Música, a Aldina Duarte conseguiu alargar o seu número de fãs. O público, em termos de idade, era muito heterogéneo. À minha frente estavam dois casais, já entradotes na idade. Uma das senhoras actuava como se fosse a opinion maker do grupo.
Que sim, que a Aldina era uma das chamadas novas vozes do fado. Que sim, que já tinha ouvido outras. Que a X era uma encenação. Cantava pouco, sem amplitude, sem entrega. Que a Y se propôs, uma vez a cantar cinco (CINCO!), fados seguidos da Amália e que ela logo duvidara...três...que costumavam cantar três, agora cinco...cinco!...não acreditava. E que a Y não conseguiu...claro. Que a Z é que era. Essa sim...e a outra, a que é médica, mais ou menos.

E aquele que parecia ser seu marido a intervir na conversa...que da médica, gostava.
E ela voltava: sim, menos mal. Agora esta Aldina, estou para ver. Não me parece grande coisa...
E foi também dizendo que o público da Casa da Música era do pior. Saloios. Do tipo de se porem de pé a bater palmas e a pedir bis, imagine-se.
Eu atrás, ladeado por três nipónicos - que, graças a Deus, não percebiam pêveda do que a criatura dizia - sorria. Pela genica da senhora. E por ter dois espectáculos pelo preço de um só.
Entraram os dois músicos. A Aldina entrou. Logo começou a cantar. Uma, outra, outra, e outras após essas. Não se dirigia ao público, não falava connosco. Olhava-nos. Ou antes, espreitava-nos... Mudava de posição. Sentava-se. Ia ao microfone, de pé. Ajeitava o xaile rebelde que teimava em mostrar que também tinha ido à Casa da Música. Mais do que cantar, interpretava as canções. A cada verso correspondia um gesto específico, um olhar próprio...
E o respeito que demonstrou pelos músicos. Bonito de se ver. De sentir uma equipa. O instrumental, pelos dois, foi fabuloso.
Os dois casais mudaram-se umas cadeiras mais para o centro da fila. Entregues. Atónitos. As primeiras pessoas da noite a levantarem-se e a aplaudirem foram eles. E a conaisseur dizia aos colegas quão fantástica era a Aldina.

É, acrescento eu. Continua Aldina!

---<-@

Ai Meu Amor se Bastasse

Letra: Manuela de Freitas
Música: Pedro Rodrigues (Fado Pedro Rodrigues de Quintilhas)

Voz: Aldina Duarte
Guitarra: José Manuel Neto
Viola: Carlos Manuel Proença


Ai meu amor se bastasse
Saberes que eu te amo tanto
E cada vez que eu cantasse
Ai meu amor se bastasse
Saberes que é por ti que eu canto


Ai meu amor se bastasse
O que a cantar eu consigo
E mesmo que eu não cantasse
Ai meu amor se bastasse
O que a falar eu não digo


Ai meu amor se bastasse
Eu saber que te não basta
E da vida que eu gastasse
A cantar eu reparasse
Que a nossa vida está gasta


Se o que eu tenho p’ra te dar
Quando eu canto te chegasse
Se isso pudesse bastar
Se me bastasse cantar
Ai meu amor se bastasse




6 comentários:

Helena disse...

ela é maravilhosa :)

Sofia disse...

Olá,
Não conhecia, mas adorei a letra.
Boa Semana!!
Abraços,

IC disse...

Ouço muito pouco fado (sempre ouvi pouco fado) e não é a 1ª vez que me pões a perguntar-me porquê. Porque aprecio pouco? Acho que não, a minha dificuldade em responder a mim mesma é precisamente porque acho que até gosto. Mas vá lá eu deslindar que razões antigas me fizeram pôr de lado o fado!!

Na verdade, sempre que o pões, eu venho ouvir ;)

***

deep disse...

Conhecia a Aldina Duarte de nome, mas não a cantar. Obrigada pela tua partilha.

isabel disse...

Vou ficar à espera que a Aldina passe por cá.

Gostei muito. Bom fim de semana.

Teresa Lobato disse...

Pois é, TsiWari, tu com a tua música, eu com a minha poesia... São ambas uma arte. Muito se entrelaçam, se fundem. Porque um poema tem de ter melodia, ainda que escondida aos primeiros olhos.
Abraço