sábado, setembro 13, 2008

# CCLXV - Sim ou não? Não!

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[Portão, Agosto'07]



Agradam-me os filmes que me fazem pensar. Gosto dos livros que me provocam, inquietam ou trazem acrescentos à minha mundivivência.

Com as canções, passa-se o mesmo. Deixo-me "ir" nas que contam estórias. Assim, as letras das canções merecem-me uma atenção especial. E há canções que me prendem por aí. Muitas.

A maiorias das que vinham do Brasil tinha esta característica fortemente marcada. E lembro-me das que a Bethânia cantava, das que o Chico Buarque escrevia, por exemplo, e de pensar " São mesmo letras soberbas!"

Esta que a Zélia Duncan canta cai nesse rol...

A Companheira
Luiz Tatit

eu ia saindo, ela estava ali
no portão da frente
ia até o bar, ela quis ir junto
"tudo bem", eu disse
ela ficou super contente
falava bastante,
o que não faltava era assunto

sempre ao meu lado,
não se afastava um segundo
uma companheira que ia a fundo
onde eu ia, ela ia
onde olhava, ela estava
quando eu ria, ela ria
não falhava

no dia seguinte ela estava ali
no portão da frente
ia trabalhar, ela quis ir junto
avisei que lá o pessoal era muito exigente
ela nem se abalou
"o que eu não souber eu pergunto"

e lançou na hora mais um argumento profundo
iria comigo até o fim do mundo

me esperava no portão
me encontrava, dava a mão
me chateava, sim ou não?
não

de repente a vida ganhou sentido
companheira assim nunca tinha tido
o que pinta sempre é uma coisa estranha
é companheira que não acompanha

isso pra mim é felicidade
achar alguém assim na cidade
como uma letra pra melodia
fica do lado, faz companhia

pensava nisso quando ela ali
no portão da frente
me viu pensando, quis pensar junto
"pensar é um acto tão particular do indivíduo"
e ela, na hora "particular, é? duvido"

e como de facto eu não tinha lá muita certeza
entrei na dela, senti firmeza
eu pensava até um ponto
ela entrava sem confronto
eu fazia o contraponto
e pronto

pensar assim virou uma arte
uma canção feita em parceria
primeira parte, segunda parte
volta o refrão e acabou a teoria
pensamos muito por toda a tarde
eu começava, ela prosseguia
chegamos mesmo, modéstia à parte
a uma pequena filosofia

foi nessa noite que bem ali
no portão da frente
eu fiquei triste, ela ficou junto
e a melancolia foi tomando conta da gente
desintegrados, éramos nada em conjunto
quem nos olhava só via dois vagabundos
andando assim meio moribundos
eu tombava numa esquina
ela caía por cima
um coitado e uma dama
dois na lama

mas durou pouco, foi só uma noite
e felizmente
eu sarei logo, ela sarou junto
e a euforia bateu em cheio na gente
sentíamos ter toda felicidade do mundo
olhava a cidade e achava a coisa mais linda
e ela achava mais linda ainda

eu fazia uma poesia
ela lia, declamava
qualquer coisa que eu escrevia
ela amava

mas isso também durou só um dia
chegou a noite acabou a alegria
voltou a fria realidade
aquela coisa bem na metade
mas nunca a metade foi tão inteira
uma medida que se supera
metade ela era companheira
outra metade,
era
eu
que
era



4 comentários:

Anónimo disse...

"Pensar é um acto tão particular"... mas atentar nas palavras dos livros ou nas letras das canções é uma forma de pensar em conjunto, de partilhar. Gostei da canção, que não conhecia. :)

Bom domingo!

Anónimo disse...

Peço desculpa aos meus amigos blogueiros pelo post que me vi obrigada a publicar hoje sob o título Carta Aberta.
Sinto-me algo envergonhada, acreditem, mas a paciência tem limites.

Espero a vossa compreensão.
Teresa Lopes

Aires Montenegro disse...

Também me agradam, e só, os livros que não me acabam na última página.
Reabri o meu blog! Porque sim!!!!!!

tsiwari disse...

deep : esta foi tirada do cd que a ZD fez ao vivo com a Simone.

Teresa : respondi-te lá no teu cantinho. E não há razões para pedidos de desculpas, como é claro.

aires : até que enfim! bem regressado sejas.


Abracejos aos 3