domingo, novembro 04, 2007

# CCXXI - Jacinta, com Zeca na sua Voz


(Uns olhos sorrindo, um sorriso espreitando...)



Em Outubro visitou-nos no novo BFlat (saudades do velhinho... sem putos em altos berros de Parabéns a você...).
Trazia a música de Zeca Afonso para nos mostrar. Já a ouvíramos a cantá-lo, em doses que sabiam a pouco, nos concertos do Daydream e do Tributo à Bessie Smith. Agora, temos um cd todo dedicado à música dele, revestida com tonalidades jazzísticas... e muito bem, diga-se.
Longe daquela menina escuteira que Portugal conheceu a cantar Ella Fitzgerald, Jacinta é uma estrela Blue Note.
Aqui, fez-se acompanhadar (de forma mais do que convincente) apenas pelo piano do Rui Caetano dando ao encontro um intimismo acolhedor.
Foi um espectáculo muito, muito agradável.
O Zeca continua (sempre) a saber a pouco...
E Jacinta continua a maravilhar-nos nos blues. Arrebatadora, quando se põe a cantar blues...
No cd, Jacinta reescreve com versos roubados aqui e ali, das canções que reinterpreta, um novo poema. Gostei da ideia. Arrisco uma composição:

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Quem te não ama não vive

Numa barquinha a dormir

vinha em sentido diferente

No quarto das danças
revelavam-se ondas.

Muito à flor das águas
umas voltam outras não

Um pouco de maresia

Ali nem o céu se calou
Chega-te à minha janela
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Para então dizer ao mundo...
Eu quero ir ao outro lado...
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Uma das minha favoritas de sempre é este Cantigas do Maio:

Eu fui ver a minha amada/Lá p'rós baixos dum jardim
Dei-lhe uma rosa encarnada/Para se lembrar de mim

Eu fui ver o meu benzinho/Lá p'rós lados dum passal
Dei-lhe o meu lenço de linho/Que é do mais fino bragal

Eu fui ver uma donzela/Numa barquinha a dormir
Dei-lhe uma colcha de seda/Para nela se cobrir

Eu fui ver uma solteira/Numa salinha a fiar
Dei-lhe uma rosa vermelha/Para de mim se encantar

Eu fui ver a minha amada/Lá nos campos eu fui ver
Dei-lhe uma rosa encarnada/Para de mim se prender

Verdes prados, verdes campos/Onde está minha paixão
As andorinhas não param/Umas voltam outras não

Refrão:
Minha mãe quando eu morrer/Ai chore por quem muito amargou
Para então dizer ao mundo/Ai Deus mo deu... Ai Deus mo levou





7 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

A Jacinta tem uma bela voz e interpreta de uma forma muito pessoal este Cantigas de Maio.
O Chorus Auris de Ourém onde sou contralto também canta uma versão desta cantiga do Zeca.
Se quiseres dar uma espreitadela no nosso blog procura o Cant´Auris.

Um abraço

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Já tinha passado por aqui e gostei do que vi, por isso linkei ao meu cantinho. Esta música faz parte das minhas memórias e esta voz é magnífica! Dei por mim a cantarolar seguindo a letra! Bom Domingo!

tsiwari disse...

rosa dos ventos : belo investimento. Musicar é do melhor... ***

girafa cor de rosa: obrigado pelas palavras simpáticas, pela visita, pela referência no teu canto. Bem vinda, volta sempre! *

Sofia disse...

yesss, I´m back ;)
Abraços,

deep disse...

Apesar de triste, é muito bonito este tema, assim como "A Morte Saiu à Rua".

Boa semana! :)

tsiwari disse...

Sofia : ainda bem! ****

deep : muito, mesmo! ***

António Ferra disse...

Gostei muito.
Conheces o Zeca cantado pela Cristina Branco? Que achas?
Vê na net.
Abraço
António