sexta-feira, julho 06, 2007

# CCIX - A saudade


(Pintura "La chambre de van Gogh a Arles" de Vincent van Gogh Museu d'Orsay, Paris )


O desaparecimento de um filho, amplamente empolado pelo recente caso da Madeleine McCan, é um dos meus maiores pesadelos.
Não acredito que algum dia fosse capaz de recuperar a (alguma) sanidade mental.
E vejo essa dor na canção de Chico Buarque, Pedaço de Mim, composta para a Ópera do Malandro.
Das várias versões que fui conhecendo, nenhuma iguala a da Simone. Ninguém diz/canta como ela " A saudade é arrumar o quarto / do filho que já morreu"


Pedaço de Mim / Simone



Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar


Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais


Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu


Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
E é assim como uma fisgada
No membro que já perdi


Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus



9 comentários:

Anónimo disse...

Há poemas que pela sua interpretação ficam fantásticos e, ganham muito mais alma...mesmo que sejam tristes.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Adoro esta canção-poema-tudo! Como do triste e da desesperança se pode fazer belo é que é espantoso.

bjs

isabel disse...

será, provavelmente, o maior pesadelo

saudades

Anónimo disse...

Pior mesmo, só descobrir-se imortal logo após a perda e passar a eternidade a tentar encontrar no gatilho de um 38 o remédio que nunca chega!
Mas Deus é justo e da mesma forma que a vida neste plano não é eterna, a morte não devera ser no, lá dela, plano.
Tudo finda, iclusive a dor, ou pelo menos abranda... (assim o espero!)

Grande abraço e obrigado pela visita!

=)

Anónimo disse...

Para um pai, não há maior terror.

Quanto a esta canção, acho que a Elba Ramalho me enfeitiçou.

Rosa dos Ventos disse...

O quarto dum filho que já morreu nunca fica arrumado!
Aliás nunca mais nada fica no sítio!
Eu sei disso...

tsiwari disse...

raquel : assim é com muitas outras...esta é, disso mesmo, um grande exemplo. ***

mrf : two of us ***

isabel : concordamos em absoluto! ***

carecone e rosa dos ventos : vocês são uns sobreviventes. Coragem! [[ ]]'s e ***

cap : aquando da sua participação na Ópera do Malandro? Elba mora cá há muiiiitttooooooo...mas a Simone, ai esta Simone!!! [[ ]]´s

Anónimo disse...

O poema é muito bonito, mas também muito triste. O tempo atenua a dor, mas não faz esquecer a pessoa que perdemos. Andará para sempre no coração.E ainda bem por isso:)

tsiwari disse...

rosa - a beleza tem contornos estranhos aos sentires... ou serão os sentires que se deixam estranhar/entranhar em forma de beleza?

O poema, a voz, a música...tudo é perfeito neste tema.