sábado, maio 05, 2007

# CXCIX - Divas - Vinte - Ute Lemper


(Já depois do espectáculo...)

Ontem, na Casa da Música. A diva Ute Lemper presenteou-nos (paga a preço de ouro, é certo!) com uma viagem musical ímpar (Voyage), com início nas canções berlinenses cantadas nos cabarés de há muitos anos atrás - numa época em que se trocava tudo por um pequeno cigarro - e passando pelas associadas à primeira (e depois à segunda) grande guerra mundial por todos conhecidas: Lili, Lola, ...
As canções em "yiddish" foram uma agradável surpresa. Muito melódicas e fortes. A dar outro sentido ao título da digressão: "Angels over Berlin and the World".
Falando insinuantemente, sussurrando libidinosamente, teatrializando sentidamente, cantando soberbamente! Em alemão, em francês, em inglês...
O quarteto de músicos que a acompanha é excepcional. E a diva fez jus à sua fama.
Quando caíu no reportório de Jacques Brel apresentou-o como sendo um artista maior, sofrido (Why? Why? Pourquoi? Pourquoi?), agarrou no Amsterdam duma forma fabulosa. Algumas respirações ficaram suspensas perante a sua amplitude e força vocais.
Ainda interpretou Léo Ferré, lamentando o esquecimento a que está devotado este poeta e músico. E relembrou Milord, brincando com o Vinho do Porto [Je bois trois boteilles!]
Quando terminou o espectáculo, as palmas foram de tal forma que ela acedeu ao pedido e votou ao palco. [Isto fazem todos, não é? ;)].
E o encore foi absolutamente inesquecível. Começou por assobiar uma melodia... alguns espectadores juntaram-se-lhe no assobio. Seriamos uma meia dúzia - e pareciamos muito bem ensaiados, de tal forma afinados estavamos. [Eu juro que não fui a ensaio nenhum!]. Ela silenciou..os assobios no público continuaram...foi bonito! Assobiavamos Mack the Knife, de Kurt Weill e Bertolt Brecht - da ópera dos Três Vinténs, e que o Chico Buarque traduziu para a sua Ópera do Malandro.






Ute arrancou com o Mack The Knife - o encore - e passou para o All That Jazz. Sempre neste tema, dialogou com cada um dos instrumentos, vocalizando de um jeito arrepiante. Sentou-se no banco do piano, costas com costas com o pianista. Encaixou-se na reentrância do violoncelo. Namorou a bateria. Desafiou a guitarra... e terminou, regressando ao Mack The Knife.
O público delirou.
Findo o concerto, eu e a mrp (mais os compreensivos conjuges), encetámos uma verdadeira (e bem sucedida) caça aos autógrafos.

---<@


A Ute cantou nas duas línguas este Amsterdam do Brel, como gravou no seu cd "but one day..." . Fica a memória:

Jacques Brel - AMSTERDAM [1964]


In the port of Amsterdam
There's a sailor who sings
Of the dreams that he brings
From the wide open sea
In the port of Amsterdam
There's a sailor who sleeps
While the riverbank weeps
With the old willow tree
In the port of Amsterdam
There's a sailor who dies
Full of beer, full of cries
In a drunken down fight
And in the port of Amsterdam
There's a sailor who's born
On a muggy hot morn
By the dawn's early light


Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui mangent
Sur des nappes trop blanches
Des poissons ruisselants
Ils vous montrent des dents
A croquer la fortune
A décroisser la lune
A bouffer des haubans
Et ça sent la morue
Jusque dans le coeur des frites
Que leurs grosses mains invitent
A revenir en plus
Puis se lèvent en riant
Dans un bruit de tempête
Referment leur braguette
Et sortent en rotant


In the port of Amsterdam
There are sailors who dance
Haunchs bursting their pants
Grinding women to paunch
They've forgotten the tune
That their whiskey voice croaks
Splitting the night with the
Roar of their jokes
And they turn and they dance
And they laugh and they lust
Till the rancid sound of
The accordion bursts
Then out to the night
With their pride in their pants
With the slut that they tow
Underneath the street lamps


In the port of Amsterdam
There's a sailor who drinks
And he drinks and he drinks
And he drinks once again
He drinks to the health
Of the whores of Amsterdam
Who have promised their love
To a thousand other men
They've bargained their bodies
And their virtue long gone
For a few dirty coins
And when he can't go on
He plants his nose in the sky
And he wipes it up above
And he pisses like I cry
For an unfaithful love
In the port of Amsterdam
In the port of Amsterdam




3 comentários:

Anónimo disse...

É uma diva, sim senhor! :)

sem-se-ver disse...

usei esta sua foto, devidamente linkada. importa-se?...

(eu só tive lata para pedir autógrafo :-)

tsiwari disse...

cap : e comprovou-o... de que forma! [[ ]]'s

sem-se-ver : obrigado pela visita. Claro que a pode usar, nessas condições. *