(Fisherwoman, de Winslow Homer)
Minha História (Gesù Bambino)
Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente
Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada na pedra do porto
Com seu único velho vestido cada dia mais curto
Quando enfim eu nasci minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré
Minha mãe não tardou a alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor
Minha história é esse nome que ainda hoje carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de Menino Jesus
(Excerto de Minha História, de Chico Buarque/Dalla/Pallotino, por Ney Matogrosso)
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Embora muitos de nós atribuamos esta canção a Chico Buarque, a verdade é que é uma versão da italiana Gesù Bambino, da dupla Lucio Dalla/P. Pallotino.
Outra curiosidade é que a sua edição, em 1971, no Brasil de então, esteve vetada ''por ser incompatível com o respeito que se deve às convicções religiosas existentes no país'', como está escrito ao lado da letra enviada para a Censura, hoje constante do Arquivo Nacional Brasileiro.
O indivíduo que dera o parecer acreditava estar a defender os valores da revolução brasileira. Acabou, a canção, por ser autorizada e foi um sucesso absoluto.
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