sábado, janeiro 30, 2010

# CCCXLVI - Sombras

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[Sem cabeça - Jan'10]



Insistia em ser cerebral.


Achava que o emocional não devia ser anulado.





O tempo esvaía-se, como areia por entre as mãos.

O bailado a dois prosseguia. Aproximavam-se. Apoiavam-se. Afastavam-se. Mas voltavam sempre àquela indefinição que não sabiam (ou não queriam?) explicar.

O tempo, sempre o tempo. As indefinições. E uma insatisfação que se instalava, volta e meia.




Sentia-se estranho.
Quando saía, levava a mão sobre o coração. Um gesto criado em exclusivo.

Em resposta, via a sua mão erguer-se à cabeça.
Teria consciência do quanto esse seu gesto transmitia?








Talvez depois [Interpretação de Ana Moura]
Jorge Fernando / Custódio Castelo


Deixei de mim as frases que trocámos
Os beijos e o tédio de os não ter
Sem querer nós nos cegámos
Sem querermos ver

As roupas e os livros não os trouxe
Que se envelheçam cobertos de pó
Por querermos que assim fosse
Deixo-te só

Recuso a sombra, triste véu sobre minh’alma
Quero-me longe e sem tremores fujo de mim
Esmorece o dia, cai a noite e não se acalma
O querer saber qual a razão de ver-me assim

Não sei ser razoável nem te espero
No tempo que pediste p’ra nós dois
Amar-te assim não quero
Talvez depois

Marcaste a minha dúvida cinzenta
Do sentimento que te unia a mim
Sabê-lo não me alenta
Melhor o fim

Palavras... só palavras que como alento
Seduzem a minh’alma a querer-te tanto
Atrais-me o pensamento
Como um quebranto



7 comentários:

wandering disse...

Mais um poema bonito.
Mas andamos um pouco "cinzentos".
A insatisfação é que faz girar o mundo.

Um dia cheio de SOL!

tsiwari disse...

wandering : os dias vestem-se de nuances, percorrendo todo o arco-íris.

Não há nada melhor que a mudança, o movimento, o viver. Concordarás, por certo!

:)***

deep disse...

Tudo muito bonito. Obrigada por mais estas partilhas.

Bom fim-de-semana. :)***

tsiwari disse...

deep : sempre tu.

Obrigado.


:)***

Rosa dos Ventos disse...

Há por aí muitos nómadas, além dos ciganos...

Abraço

tsiwari disse...

Rosa dos Ventos : ciganos? Bem...


;)***

Rosa dos Ventos disse...

Não quis ser depreciativa...
Quis dizer que, como ciganos nómadas, há outros nómadas que sem serem ciganos vagueiam por aí...ao sabor do vento!
Claro que tu entendeste!:-))

Abraço