sábado, janeiro 26, 2008

# CCXXXII - Andar VS. Amar

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[Bifurcam-se, também elas...as vidas]

O melhor dos poderes das canções [dos livros, dos quadros, das imagens,...] é, para mim, o de permitir a construção de leituras imperativamente pessoais. É o de imaginar histórias associadas às sensações lidas.

JP Simões já com os Belle Chase Hotel [nunca entendi a razão do sucesso relativamente baixo dessa formação genial] no tema São Paulo 451 nos remetia para o mundo do Brasil. Com o 1970 - álbum a solo - percebe-se a influência notória de autores da MPB, com destaque absoluto para Chico Buarque. A mundividência, traduzida nas canções, é o sítio do Chico.
A atitude do JP Simoes sofreu uma mudança brutal. O boémio, já tocado pelo álcool, dos Belle Chase seria o alter ego da sensibilidade que agora se revela? Mais segurança e maturidade permitem a JP estados de sobriedade em palco?
O meu assobio* caíu neste tema, uma destas manhãs. Para mim, um dos mais belos da música portuguesa recente. Fui buscá-lo...
A minha leitura desta história: Houve um relacionamento. Até viveram juntos. Um dia, ele foi-se. Para ele, mais do que a relação, acabou toda a preocupação, todo o carinho, tudo o que algum dia ela poderia representar para si. Que ela o ignore, que vá viver longe... Para ela, a ele ficou na sua vida. Não o odeia nem lhe quer qualquer mal. Até gostava de um café, de o apresentar ao novo companheiro. Será que ele quer as coisas que deixou para trás?
Os homens são de Marte e as mulheres de Vénus?


*E a música... linda!


Se por acaso (me vires por aí) - [JP Simões e Luanda Cozetti]

Se por acaso me vires por aí
Disfarça, finge não ver
Diz que não pode ser, diz que eu morri
Num acidente qualquer
Conta o quanto quiseste fazer
Exalta a tua versão
Depois suspira e diz que esquecer
É a tua profissão


E ouve-se ao fundo uma linda canção
De paz e amor


Se por acaso me vires por aí
Vamos tomar um café
Diz qualquer coisa, telefona, enfim
Eu ainda moro na Sé
Encaixotei uns papeis e não sei
Se hei-de deitar tudo fora
Tenho uma série de cartas para ti
Todas de uma tal de Dora


E ouvem-se ao fundo canções tão banais
De paz e amor


Se eu por acaso te vir por aí
Passo sem sequer te ver
Naturalmente que já te esqueci
E tenho mais que fazer
Quero que saibas que cago no amor
Acho que fui sempre assim
Espero que encontres tudo o que quiseres
E vás para longe de mim


E ouve-se ao fundo uma velha canção
De paz e amor


Na sexta-feira acho que te vi
À frente da Brasileira
Era na certa o teu fato azul
E a pasta em tons de madeira
O Tó talvez queira te conhecer
Nunca falei mal de ti
A vida passa e era bom saber
Que estás em forma e feliz

E ouve-se ao fundo uma triste canção
De paz e amor.





8 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Um belo, sereno e (im)possível diálogo...
Obrigada

zef disse...

Olá, TsiWari.
Estamos a ouvir a música...
A história...olha, deixo-a para depois. Agora, guardo a música.
Um abraço

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Esta, finalmente :)) conheço!! É belíssima. Quanto a Chico Buarque é um dos meus preferidos, cresci com as suas músicas que tanto gosto!

Quanto a homens e mulheres, sim têm as suas diferenças, mas são essas precisamente que os devem unir e enriquecer! Boa semana e obrigada por mais uma excelente partilha.

Anónimo disse...

E quem disse que o desencanto não tem o seu encanto, também?... vozes tão diferentes, desfechos tão distintos... ainda bem que sou mulher... :)

deep disse...

A música - tal como a letra - é muito bonita!

Ultimamente, a experiência tem-me mostrado que são cada vez menos os homens de Marte...

Boa semana. :)

tsiwari disse...

rosa dos ventos : assim é! Bjo ***

zef : fico esperando os comentários suspendidos. abraço!

girafa : o Chico é inconfundível. e nota-se aqui, muito... não é? ***

lunarzinha : ainda bem que gostas de o ser! ;)***

deep: encantado, tb! Huum? Não entendi muito bem...menos? ;))) ***

Raquel Alves disse...

É lindo, lindo. Acreditas que o conheci, por intermédio do meu filho! Quanta beleza os filhos nos podem ajudar a descobrir!
Também ando por aí, mas, de outra forma
Bj

tsiwari disse...

raquel : muita da beleza com que o mundo se reveste provém dos nossos filhos. O mundo muda quando eles chegam... e nós mudamos, com o que nos trazem. Música, também... ***