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[É uma pena - Agst'10]
Deixara-se ficar assim, imóvel no sofã.
Convidara-o (ou fora ele quem, comme d'habitude, se tinha imposto?), preparara-lhe o jantar, usara o seu mais bonito e recente serviço de louças. As velas tinham ardido, tornando o ambiente mais acolhedor.
O licor que lhe servira era caseiro - bem como o pão e o presunto.
A música era coisa a cargo do convidado - não conseguira ainda impor-lhe a sua. As novidades trazia-as ele, habitualmente.
O filme já o vira a sós - mas ele ainda não e cultivava este gosto de partilhar (com ele) as artes que apreciava.
Saíra, ele já. Só, de novo.
No sofã, imóvel.
Na sua cabeça, badalavam as palavras dele - Para que guardas tu as palavras? Quando me dizes "Amo-te"?
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Em audição : Antony And The Johnsons's - Flétta, a duet with Björk.
11 comentários:
A pena, assim, sobre o fundo cinzento faz pensar em solidão.
Ela tem um sofá e ele vai embora, que desperdício!
E como Eugénio de Andrade dizia, num dos meus poemas favoritos, as palavras gastam-se.
Gostei da música, especialmente do piano.
:)*
wandering : o sofã pode ter sido usado... ou até qualquer outra recurso, digo eu.
As palavras gastam-se, sim, se são mal usadas. :)
O piano é poderoso, concordo. E é instrumento dado a solitários e a espantar solidões...
:)****
As palavras desgastam-se, especialmente quando repetidas em eco...
Mas também as roupas, o Amor e até mesmo as memórias sofrem a erosão dos tempos...
Como fã ( com muita discografia ) de Bjork e Anthony Hegarty, finalmente ouço esta música numa edição com qualidade. Obrigado!
Vibracto - bem vindo!
Obrigado. Também fazem parte da minha constelação de artistas esta parelha e, neste tema, estão num casamento perfeito de vozes...
Apareça mais vezes! Abç
Björk... gosto muito e há tempos que não ouvia.
Venho deixar-te um desafio (se ainda te restar fôlego): Um post no Aragem com testemunho sobre os mega-agrupamentos, aberto a comentários com notícias concretas sobre essa loucura. Na blogosfera docente discute-se muito a política do ME/Governo, mas do "terreno" quase nada se diz.
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IC : Felizmente, ainda não entrei nessa vertigem alucinante. Temo o dia mas vou-me habituando ao Carpe Diem - nada é garantido nos dias que correm. E, em educação, sem serenidade, tranquilidade e algum estabilidade nada se faz, parece-me.
Bjos ***
De uma melancolia contagiante esta música e este texto!
Abraço
Rosa dos Ventos : melancólico, sim.
Mas... para que quererá ele as palavras se tem os actos?
:)*
Vibracto - agora, que sei quem és, aparece e deixa rasto mais vezes sff!!
Grande abç
Fá-lo-ei com todo o gosto, sim! :)
Enquanto essa faceta melómana, de puro bom gosto e riqueza na linguagem se mantiver, este blog continuará nos meus favoritos...
Abraço!
Vibracto - obrigado.
Abç
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