.
.
[Proibido - Ponte Vecchio, Maio'10]
[Juras sólidas - Florença, Maio'10]
Imagine-se em pleno século XIV, a época de Dante, Bocaccio, Giotto... Um periodo luminoso da história florentina nas artes e nas ciências. Por sobre o Rio Arno, a elegante Ponte Vecchio, construída em 1333, destinada somente aos mais prestigiados joalheiros.
Avance até à actualidade. A ponte ainda existe - é a chamada Ponte Velha (ponte Vecchio). Ao longo da ponte há vários aloquetes, especialmente no gradeamento em torno da estátua de Benvenuto Cellini. Celebra-se, deste jeito, a antiga ideia do amor e dos amantes: ao trancar o aloquete e lançar a chave ao rio, os amantes afirmavam a sua ligação eterna. Graças a essa tradição e ao turismo desenfreado, milhares de cadeados tinham de ser removidos pondo em risco a estrutura da velha ponte.Por isso, o município de Florença estipulou uma multa de 160 euros para quem for apanhado, em flagrante, a colocar aloquetes na ponte.
No entanto, bem junto do aviso, há aloquetes presos ao gradeamento. E, pelas paredes que ficam próximas da ponte, também se podem ver desses aloquetes...
Acreditarão em tal os que "aloquetam" as vontades?
Ou cantarão, depois, "tu já não me querias mais"?
Guia (Pierre Aderne/Márcio Faraco)
Interpretação - António Zambujo
Atravessei o oceano
Sem o teu amor de guia
Só o tempo no meu bolso
E o vento que me seguia
Venci colinas de lágrimas
Desertos de água fria
Tempestades de lembranças
Mas tu já não me querias mais, mais
Tu já não me querias mais
Procurei a terra firme
Em cada onda que subia
O sol cegava meus olhos
Toda a noite eu te perdia
Lá dentro no pensamento
Virou tudo nostalgia
Água, sal e sofrimento
Porque tu não me querias mais
Tu não me querias mais
Já era Agosto, quando acordei na praia
E vi chegar a primavera, fiz nova cama de flores
Lembrei de todas as cores, cantei baixinho pra elas
Hoje falo em segredo, nessa paixão esquecida
Pra não acordar saudade, pra não despertar o medo,
Pois um amor de verdade, sonha pró resto da vida.
Mas tu já não me querias mais,
Tu já não me querias mais…
Tu já não me querias mais…
10 comentários:
Uma frase sem dúvida conhecida é:
" Se amas alguém , deixa-o livre. Se voltar é teu, se não, nunca o foi".
É uma frase um estranha: terá partido porquê? O facto de ter voltado, implica necessariamente que seja teu?
Nunca entendi esta associação entre amor e prisão. Quem ama não prende, quem é amado não se sente preso.
E novamente o eterno, eterno.
O aloquete cor-de-rosa é o maior, estas mulheres...
Abraço
Música, letra e voz muito bonitas. Não se prendem a vontade e o sentimento - prender é afastar. Lembrei-me do filme "Ata-me", em que um homem pensa conquistar o amor de uma mulher mantendo-a presa e de uma novela de Cervantes - "El Celoso Extremeño" -, em que um homem de idade parte em viagem e deixa a mulher, bem mais nova, trancada numa casa sem janelas e com apenas uma porta, ainda assim não consegue evitar que ela se apaixone por outro.
:)***
wandering : na verdade, ninguém é de ninguém, creio eu.
Há é momentos de entrega, em que deixamos outros entrar... sem deixarmos de nos pertencer, a nós mesmos. Partilhamo-nos,mais do que nos damos.
Amar e prender não se conjugam, de facto.
:)***
deep : Zambujo é o cantar duma ternura infinita, acho eu.
Almodóvar sempre me encantou. Se, de alguma forma, acedi à cultura musical em língua espanhola a ele o devo. Claro que vi Ata-me, como adivinharás. E tudo o mais que pude dele.
:)***
Muitos dos gestos amorosos apaixonados são ridiculos (como as Cartas...). Mas acho bonito o simbolismo deste acto!...A música é deliciosa.
Raquel : O acto simbólico é bonito.
Se se acreditar, nesse simbolismo, deve saber muito bem. Deve ser um alento d'alma...
:)******
"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."José Saramago
Os maiores aloquetes estão em algumas das opções que tomamos na vida, aquelas em que nos oferecemos totalmente a alguém e quase "esquecemo-nos que nos pertencemos". E, esse alguém julga que nos "tem"/prende para sempre.
Mas, à parte isso (como dizia Fernado Pessoa),ainda é bom acreditarmos no amor eterno...
Muito bem enquadrada esta bela canção de um amor perdido...ou de um cadeado que enferrujou! :-))
Abraço
yuvaíka - bem, o Nobel (português) da literatura (portuguesa) sabia, na verdade, umas coisas e dizia-as muito bem ditas.
No restante, touché!
:)***
Rosa dos ventos - aqui o "je" esforça-se!
Obrigado!
Bjo
Enviar um comentário