domingo, janeiro 31, 2010

# CCCXLVII - 347

.
.
.


[Caminhando - Nov'09]





My Friend - Bill Callahan

I looked all around
It was not written down
And so I'll tell you now
I will always love you
My friend

Now I'm not saying we're cut from the same tree
But like two pieces of the gallows
The pillar and the beam
Like two pieces of the gallows
We share a common dream -
To destroy what will harm other men
My friend

I looked all around
It was not written down
So I'll tell you now
I will always love you
My friend


sábado, janeiro 30, 2010

# CCCXLVI - Sombras

.
.
.



[Sem cabeça - Jan'10]



Insistia em ser cerebral.


Achava que o emocional não devia ser anulado.





O tempo esvaía-se, como areia por entre as mãos.

O bailado a dois prosseguia. Aproximavam-se. Apoiavam-se. Afastavam-se. Mas voltavam sempre àquela indefinição que não sabiam (ou não queriam?) explicar.

O tempo, sempre o tempo. As indefinições. E uma insatisfação que se instalava, volta e meia.




Sentia-se estranho.
Quando saía, levava a mão sobre o coração. Um gesto criado em exclusivo.

Em resposta, via a sua mão erguer-se à cabeça.
Teria consciência do quanto esse seu gesto transmitia?








Talvez depois [Interpretação de Ana Moura]
Jorge Fernando / Custódio Castelo


Deixei de mim as frases que trocámos
Os beijos e o tédio de os não ter
Sem querer nós nos cegámos
Sem querermos ver

As roupas e os livros não os trouxe
Que se envelheçam cobertos de pó
Por querermos que assim fosse
Deixo-te só

Recuso a sombra, triste véu sobre minh’alma
Quero-me longe e sem tremores fujo de mim
Esmorece o dia, cai a noite e não se acalma
O querer saber qual a razão de ver-me assim

Não sei ser razoável nem te espero
No tempo que pediste p’ra nós dois
Amar-te assim não quero
Talvez depois

Marcaste a minha dúvida cinzenta
Do sentimento que te unia a mim
Sabê-lo não me alenta
Melhor o fim

Palavras... só palavras que como alento
Seduzem a minh’alma a querer-te tanto
Atrais-me o pensamento
Como um quebranto



quinta-feira, janeiro 28, 2010

# CCCXLV - Um dia talvez...

.
.
.


[Por Tibães, também há anjos... - Jan'10]


Lá volto ao Sebastião Antunes e à boa música portuguesa!
Tem uma voz muito agradável. Escreve de forma simples, sobre as coisas simples, como tem que ser. E resulta magistralmente.


Sabes eu também - Sebastião Antunes


Estava difícil combinar um café
mas desta vez lá foi
Talvez possamos falar do que já lá vai
que às vezes ainda dói
da coragem esquecida que já se perdeu
quem deixou por dizer foste tu ou fui eu
da lembrança guardada num canto qualquer
da palavra apagada por não se entender
e dizer-te num gesto mais enternecido
sabes, eu também ando um pouco perdido

Vou preparar-te um jantar, com certeza
vou ser original
e vou escolher-te um bom vinho, tu sabes
nunca me saí mal
vou falar-te das voltas que a vida trocou
das verdades que o tempo já entrelaçou
entre sonhos queimados, lançados ao vento
entre a cor de um sorriso
e o tom de um lamento
e dizer-te de um sopro, empurrado pela sorte
sabes, eu também ando um bocado sem norte

Olha, não fiz sobremesa
deixa lá, fica para a outra vez
vamos deixar mais um copo a falar
dos quês e dos porquês
Uma história que nos apeteça lembrar
um episódio que nunca nos deu p'ra contar
em segredo guardado pelo cair do pano
um encontro marcado no cais de um engano
e dizer-te na hora em que a voz fraquejar
sabes, eu também... me apetece chorar

E vou chamar um táxi, é hora p'ra te levar a casa
era suposto um de nós nesta altura ficar com a alma em brasa
mas a vida é assim, não aconteceu
pouco importa dizer foste tu ou fui eu
o que importa é o abraço que estava por dar
há-de haver uma próxima e mais um jantar
e dizer-te a sorrir "já passa das três, dorme bem"
quem sabe? um dia, talvez...


sábado, janeiro 23, 2010

# CCCXLIV - Os penares de cada um

.
.
.






Este poema é uma despedida do imposssível. Muito forte o " Hoy vas a entrar en mi pasado,/ en el pasado de mi vida..."
O tango tem uma nova musa (pouco consensual, é certo) - Adriana Varela!




Los mareados
Tango
1942
Music: Juan Carlos Cobián
Lyric: Enrique Cadícamo


Rara..
como encendida
te hallé bebiendo
linda y fatal...
Bebías
y en el fragor del champán,
loca, reías por no llorar...
Pena
Me dio encontrarte
pues al mirarte
yo vi brillar
tus ojos
con un eléctrico ardor,
tus bellos ojos que tanto adoré...

Esta noche, amiga mía,
el alcohol nos ha embriagado...
¡Qué importa que se rían
y nos llamen los mareados!
Cada cual tiene sus penas
y nosotros las tenemos...
Esta noche beberemos
porque ya no volveremos
a vernos más...

Tres cosas lleva mi alma herida:
amor... pesar... dolor...
Hoy vas a entrar en mi pasado
y hoy nuevas sendas tomaremos...
¡Qué grande ha sido nuestro amor!...
Y, sin embargo, ¡ay!,
mirá lo que quedó...




domingo, janeiro 17, 2010

# CCCXLIII - Miguel Torga

.
.
.


[O Grito da Pedra , Mosteiro de Tibães - Jan'10]




"Saibam que há gritos como há nortadas"
in Orfeu Rebelde


Morreu, há 15 anos, num dia destes de Janeiro. O poeta do telúrico. Miguel Torga.



[Carlos Paredes - Dança dos Montanheses]

sexta-feira, janeiro 15, 2010

# CCCXLII - Lloronas

.
.
.



[Dani Klein - Foto da net]



falara deles por cá.

Têm cd novo.
(Comme On Est Venu).

A propósito da Lhasa, disse-me que lhe fazia lembrar Vaya con Dios. Demos por nós conversando sobre este tema, que Lhasa cantou tal como Chavela Vargas e que, também por isso, lhe chamaram (à Lhasa) a sucessora da Chavela.

E lembrei-me que também os Vaya con Dios cantaram este tema - ao jeito deles.


Vaya Con Dios
La llorona
[(c) Traditional arranged by Jean-Pol Van Ham & Bertil André ]


Todos le dicen el negro, Llorona
Negro pero cariñoso
Todos le dicen el negro, Llorona
Negro pero cariñoso.
Él es como el chile verde, Llorona
Picante pero sabroso.

Ay de mi, Llorona, Llorona, Llorona
Llévame al río.
Tápame con tu rebozo, Llorona
Porque me muero de frío

Cada vez que cae la tarde, Llorona
Me pongo a pensar y digo
De qué me sirve la cama, Llorona
Si él no duerme conmigo

Ay de mi, Llorona, Llorona, Llorona,
Deja de llorar
A ver si llorando puede, Llorona
Mi corazón descansar




domingo, janeiro 10, 2010

#CCCXLI - Amar (a sós)

.
.
.


[Paulo Praça - (dizia) a verdade? - Porto, Maio'09]


Amar. O acto.
Segredos? Ou intimidade(s)?
Porque tudo nos pertence quando nos amamos, porque tudo nos é devido nesses momentos, porque ...

"Só nós dois é que sabemos" , ouvia-se numa velhinha canção portuguesa.
"yes, many loved before us, I know that we are not new", cantava Cohen.

Seremos todos únicos, afinal?
Serão, todas as vezes que amamos, singulares?


(diz) a verdade
>> letra : valter hugo mãe
>> interpretação : Paulo Praça


se te perguntarem por nós, sobre que coisa fazemos
quando estamos juntos
diz a verdade,
que deslocamos os cometas sem querer,
as estrelas para desenhos e a lua
garantindo o amor

diz a verdade sobre a intervenção
na cósmica escolha dos casais,
a obrigação de nos obedecer
não fosse o universo desentender
quem somos
e favorecer a separação
ou, pior, o não nos havermos conhecido.



segunda-feira, janeiro 04, 2010

# CCCXL - Sad news... bye, dear Lhasa! RIP

.
.
.


(And she smiled at me...)


No primeiro dia deste 2010, à noite, Lhasa de Sela faleceu vitimada pelo cancro de mama de que padecia.

Uma tristeza sem fim... aquela alegria (simpatia, empatia, artista,...) não mais nos visitará. Fica no canto doce da memória um concerto no Palácio de Cristal (eu sei, da Rosa Mota e tal... mas ainda o chamo assim!) no Porto. E a solicitude amável da conversa depois do concerto, do autógrafo, do sorriso,...

Calou-se.

Que pena!









Lhasa de Sela - I'm going in


When my lifetime had just ended
And my death had just begun
I told you I'd never leave you
But I knew this day would come

Give me blood for my blood wedding
I am ready to be born
I feel new
As if this body were the first I'd ever worn

I need straw for the straw fire
I need hard earth for the plow
Don't ask me to reconsider
I am ready to go now

I'm going in I'm going in
This is how it starts
I can see in so far
But afterwards we always forget
Who we are

I'm going in I'm going in
I can stand the pain
And the blinding heat
'Cause I won't remember you
The next time we meet

You'll be making the arrangements
You'll be trying to set me free
Not a moment for the meeting
I'll be busy as a bee

You'll be talking to me
But I just won't understand
I'll be falling by the wayside
You'll be holding out your hand

Don't you tempt me with perfection
I have other things to do
I didn't burrow this far in
Just to come right back to you

I'm going in I'm going in
I have never been so ugly
I have never been so slow
These prison walls get closer now
The further in I go

I'm going in I'm going in
I like to see you from a distance
And just barely believe
And think that
Even lost and blind
I still invented love

I'm going in
I'm going in
I'm going in

domingo, janeiro 03, 2010

# CCCIX - Tudo é pequeno

.
.
.


[Sobrevoando a Europa - Dez'09]



No início de um novo ano é usual projectar intenções (que muitas vezes não passam disso mesmo e, talvez por isso, se repetem nestas alturas) para os doze meses que ainda temos em estado de "não usados".
Por estes tempos, também há quem faça balanços. Quem olhe para trás...
A mim, sabe-me sempre bem ouvir de novo temas lá do baú. Como este:



Saudade dos Aviões da Panair (Conversando num bar)

>> Composição - Milton Nascimento
>> Interpretação - Elis Regina [a Pimentinha]

Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira
E o motorneiro parava a orquestra um minuto
Para me contar casos da campanha da Itália
E do tiro que ele não levou
Levei um susto imenso nas asas da Panair
Descobri que as coisas mudam e que tudo é pequeno nas asas da Panair
E lá vai menino xingando padre e pedra
E lá vai menino lambendo podre delícia
E lá vai menino senhor de todo o fruto
Sem nenhum pecado sem pavor
O medo em minha vida nasceu muito depois
descobri que a minha arma é o que a memória guarda dos tempos da Panair

Nada de triste existe que não se esqueça
Alguém insiste e fala ao coração
Tudo de triste existe que não se esquece
Alguém insiste e fere o coração
Nada de novo existe neste planeta
Que não se fale aqui na mesa de bar

E aquela briga e aquela fome de bola
E aquele tango e aquela dama da noite
E aquela mancha e a fala oculta
Que no fundo do quintal morreu
Morri a cada dia dos dias que eu vivi
Cerveja que tomo hoje é apenas em memória
Dos tempos da Panair
A primeira Coca-Cola foi me lembro bem agora
Nas asas da Panair
A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo
Nas asas da Panair

Nada de triste existe que não se esqueça ...

Em volta desta mesa velhos e moços
Lembrando o que já foi
Em volta dessa mesa existem outras falando tão igual
Em volta dessas mesas existe a rua
Vivendo seu normal
Em volta dessa rua uma cidade sonhando seus metais
Em volta da cidade

laralarai...