Nas suas múltiplas facetas, como todos nós afinal, António Gedeão marcou muita gente. Neste centenário do seu nascimento (Rómulo de Carvalho) alguns lembram o professor, outros o cientista e autor de manuais, outros ainda a sua poesia... Será que nos dava alento, a nós professores, quando escreveu:
Eu sei porque é que morro / Eles é que não sabem porque matam!
(In Poema do autocarro, do livro Máquina de fogo, 1961)
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Este é um dos mais bonitos poemas, na língua de Gedeão. Pedra filosofal, musicada e cantada por Manuel Freire:
Eles não sabem que o sonho / é uma constante da vida
tão concreta e definida / como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta / em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso, / em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos / que em verde e ouro se agitam
como estas aves que gritam / em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho / é vinho, é espuma. é fermento,
bichinho alacre e sedento. / de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo / num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho / é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel. / arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral, / contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia, / que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante, / rosa dos ventos,
Infante, caravela quinhentista, / que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim, / florete de espadachim,
bastidor, passo de dança. / Colombina e Arlequim,
passarola voadora, / para-raios, locomotiva,
barco de proa festiva, / alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar, / ultra som televisão
desembarque em foguetão / na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham, / que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha / o mundo pula e avança
como bola colorida / entre a mãos de uma criança.
4 comentários:
Que bom que é ser português e pertencer à espécie Humana... quando sabemos de pessoas assim!
Até sempre.
Tranmissão de pensamento? Ná... acho que nem é precisa quando se têm na mente números comuns para as "apostas" ;)
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Na estante da minha sala António Gedeão ocupa um lugar especial, porque o livro que tenho é uma edição especial,que foi comprada a muito custo por puro encanto e porque é um poeta de excepção.
Como acontece sempre que passo por aqui, senti, mais uma vez, que és realmente meu irmão. Ao ler-te reconheço-me! Será só dos genes? Bjs
Aprendi com Gedeão que as palavras podem ser duras como rochas e repletas de ternura, ao mesmo tempo. No fundo, as palavras são como diamantes, o mais puro cristal.
Também eu lhe dediquei uma singela homenagem. E, na Feira do Livro da Escola, ele terá um cantinho só para ele.
Um abraço.
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