terça-feira, outubro 03, 2006

# CXLVIII - Andamos a promover a mediocridade


(Foto em Ponte de Lima, 2006)



Enquanto formador tenho muitas vezes partilhado, com os colegas professores, uma das minhas maiores inquietações relacionadas com o nosso sistema educativo.

Este sistema educativo promove a formação de patos. Despreza as chitas, os golfinhos, as andorinhas, …

Eu explico!
Há muitos anos atrás – andava o La Fontaine no mundo, ainda – os animais decidiram escolher, de entre eles, o que melhor os representaria, em termos globais.
Promoveram as mais diversas provas, nos diferentes habitats.
A prova de corrida foi ganha pela chita. O pato teve uma participação modesta, pontuando alguma coisa assim mesmo.
Na prova de voo aconteceu algo análogo. Claro que a chita não pontuou nada, mas o pato lá foi amealhando pontos…
Quando se desenrolou a prova de natação nem a campeã dos ares, nem a da corrida, pontuaram.
Ganhou o golfinho (que nada pontuara na corrida nem na prova de voo) …
O pato, longe de ser o melhor nadador, lá foi nadando… e pontuando…

Feitos os apuramentos finais, está bom de ver quem foi eleito representante dos animais… o pato! Sem ser muito bom em coisa nenhuma, foi sendo modestamente hábil em tudo.

Esta fábula – ou algo com pretensões a tal – ilustra bem o nosso sistema de ensino. Quantos alunos muito bons em Desenho, por exemplo, deixamos – quais chitas – ficar para trás por serem uma autênticas nulidades em Matemática e/ou em Português?

Promovemos a formação de patos! Promovemos a mediocridade!

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(Excerto de "O Pato", de Wanda Sá & Menescal)

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A título de curiosidade : As chitas (ou guepardos – 110 km/h), os golfinhos (refiro-os pela graciosidade – os mais velozes são o agulhão-vela – 109 km/h - o peixe-espada que nada a 96 km/h, e o marlim, que atinge por volta de 80 km/h, e só então aparecem os golfinhos e os tubarões), as andorinhas (170 km/h)…

11 comentários:

Alda Serras disse...

Fizeste-me recordar uma imagem que vi em tempos: um grupo de crianças, todas diferentes, entra para uma máquina. As crianças saem do outro lado todas iguais, com o mesmo uniforme, o mesmo corte de cabelo, a mesma maneira de pensar,... Essa máquina era a escola.

São as consequências da democratização do ensino, da escola para todos, da escola inclusiva,... cada vez mais somos "patos".

Alda Serras disse...

Obrigada pela preocupação com a minha saúde. Tomei 2 compridos, bebi 1 jarro de sumo de limão, comi uma canja quentinha e estou um pouco melhor.

Miguel Pinto disse...

hummm... essa história do pato é interessante... já conhecia a fábula do burro mas... promover a formação de patos? eheheh
Agora meio a sério e meio a brincar: A "minha" escola pluridimensional seria uma solução para que cada um libertasse o animal que tem dentro de si... :)

Miguel Pinto disse...

opss: libertasse=liberte

Anónimo disse...

Já conhecia essa. :)
Patos, temos sido nós ao permitir a "normalização" sem sabor.

Teresa Lobato disse...

Estas tuas afirmações levantam várias questões. Uma delas diz respeito ao trabalho que nos pedem para fazer com os alunos que têm dificuldades, descurando aqueles que podiam ir mais além. É muito difícil conseguirmos o equilíbrio desejado numa turma tão diversa.
Aqui há uns anos decidi fazer três planificações diferentes só para uma turma: uma para os mais fracos, outra para os medianos e uma outra para os bons. A experiência durou duas semanas e até teve resultados positivos só que, durante esse tempo, eu andei a dormir em pé, completamente esgotada. Não voltei a repetir a experiência.
Também já dei aulas extras, na escola, fora do meu horário, a alunos que queriam progredir no Inglês. Lembro-me que foi um trabalho gratificante, até ao momento em que todos os alunos da turma quiseram participar.
Aí, voltámos um pouco ao ponto de partida.
Continuemos, pois, buscando o cálice da eterna sabedoria.

Anónimo disse...

Inventem-se novos bichos, porque esta do pato já tem barbas....

Anónimo disse...

De acordo com as novas teorias, desconhecidas de La Fontaine (e não só), se calhar o pato tinha INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, coisa que os adversários poderiam não ter. Era o que eu lhe teria respondido caso o tivesse como meu formador.E indicar-lhe-ia um livro sobre o assunto, com todo o gosto.
Cumprimentos.

tsiwari disse...

bell, miguel, teresa e cap...acho que entenderam ao que eu me referia.
anonymous ( sem assumir quem seja, acho que é isso que quer dizer anonymous - mas eu não sou grande coisa em Inglês):
acho que vou precisar de me explicar melhor. Gardner, já em 1985, catalogou várias formas de inteligência - a corporal e cinestésica, a visuo-espacial, a linguística, a lógico-matemática, a intrapessoal e a social. Destas 7, privilegiamos essencialmente uma, a lógico-matemática, quando muito duas, no ensino (porventura também a linguística). As demais são minorizadas.Era a isto que eu me referia.
Quando me fala na Inteligência Emocional (IE) do pato, só me pode estar a insultar. Que é que tem a ver a capacidade de voar mais ou menos, caminhar mais ou menos e nada mais ou menos com IE??? Acho que devia ler o tal livrinho de que fala...A gestão das emoções, defendida pelo guru da IE, Daniel Goleman, não passa por estas capacidades físicas.

A propósito, identifique-se (é básico na gestão da IE de cada um, seja bem vindo a este meu espaço mas livre-me sff de comentários zen-budistas. Não tenho pachorra para tal.

Anónimo disse...

Caro colega "Anonymous"

Surprende-me a ousadia que sustenta capeada pelo anonimato.
Nós, os anónimos, pautamos a nossa intervenção pela habilidade que temos para compreender e influenciar emoções.
O equilíbrio constitui o nosso objectivo de intervenção. De modo algum, se procura a repressão de sentimentos.
E, caro colega, gerir as emoções dos outros exige, entre outros quesitos, EMPATIA.
Ora, pelo que escreveu, parece-me que vai ter que treinar mais!!
Não, não leia esse livro que queria emprestar!!! Treine, pratique, sinta as pessoas, entregue-se no brilho dos olhares, festeje a emoção de um sorriso.

Assina: Anónima

Anónimo disse...

11 comentaram.