sexta-feira, fevereiro 27, 2009

# CCXC - Retorno

.
.
.



[numa curva da vida - porto, fev'09]



Por vezes somos assolados por uns momentos em que o tempo se imobiliza e nos transporta ao passado, deixando-nos reféns de instantes, vivências ou sentires - acho que é uma forma de saudade, cada um destes retornos.


Esses momentos carregam cheiros, cores, olhares, sorrisos, lágrimas, corridas, bancos, erva, cama, rios, moinhos, mar, areias, viagens, cumplicidades, embaraços, prazeres, deslumbramentos e, sempre, bandas sonoras.


E, hoje, a banda sonora contém o tema "Lanterna dos Afogados" de Herbert Vianna, o vocalista e principal compositor dos Paralamas do Sucesso.

Esta é a versão em dueto com Gal Costa, no seu álbum - imperdível - Acústico, de 1997.




Lanterna dos Afogados - Herbert Vianna


Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Eu tô na Lanterna dos Afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar

Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa
Basta poder te ajudar
E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar
Eu tô na Lanterna dos Afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar



quarta-feira, fevereiro 25, 2009

# CCLXXXIX - Can I?

.
.
.


[E o mar ali tão perto... - Fev'09]




O calor sentia-se. Tiraste o casaco, mantendo os óculos escuros. As palavras faziam a conversa escorreita.


- Há tantas pessoas que vamos conhecendo. No entanto, mantemos apenas algumas nas nossas vidas. O que terão essas pessoas para serem, exactamente essas, as que vamos mantendo?


E vestiste o casaco.


- Sabes - disse-te eu - acho que permanecem as que conseguem, de alguma forma, fazer-nos sentir especiais.


- É irritante essa tua maneira de teres tudo tão arrumadinho. As ideias tão feitas, as verdades tão seguras...


- É - concordei.


Rimos ambos. E vesti o meu casaco.


No regresso a casa, ouvi Clem Snide.
Também acharás, estou seguro - ai as minhas certezas! - que todos temos um pouco de Jagger's ou Bowie's ou Stone's ou Jolie's. (Mick, David, Sharon ou Angelina).

E que, assim, até tem alguma piada, dirias tu.
Eu retorquiria - sim, assim, até vale a pena...
.



Clem Snide - Your Favorite Music

your favorite music
well, it just makes you sad
your favorite music
well, it just makes you sad
but you like it
'cause you feel special that way

you feel special
that you're like no one else
you feel special
that you're like no one else
but then you're lonely
and you need someone to help
but then you're lonely
and you need someone to help

and i can't teach you
to learn to love yourself
i can't teach you
to learn to love yourself

but here's a sad song
that i wrote for no one else
but here's a sad song
that i wrote for no one else





sábado, fevereiro 21, 2009

# CCLXXXVIII - CaRnAvAl

.
.
.



[Porto, Fev´09 - Qual está disfarçado?]

As conveniências de serviço. O calendário e as suas determinações superiores. Como o cArNaVaL!

Tranportando-nos de regresso ao mundo encantatório, com muito de mágico nas conjugações perfeitas de palavras e sons, de Pedro Barroso, Sensual Idade carrega uma maturidade e uma sensualidade a que, parodoxalmente, há muito ele nos habituou. Neste projecto (concretizado!) as canções fazem-se acompanhar de poemas ( O pintor e a bailarina é de uma beleza suprema e O sexo comanda a vida é antológico!) e a voz do cantautor traz-nos de volta Lara Li (que saudades de um trabalho novo, com a beleza dela - sim, também se tem saudades do futuro...).

O cantor Pedro Barroso contou com os serviços do artista plástico, Pedro Chora, para as ilustrações deste seu trabalho. É a estreia pública absoluta deste seu lado artístico (Pedro Chora é Pedro Barroso) e facilmente se entende a razão das ilustrações serem tão perfeitas...

Podemos encontrar muita coisa neste Sensual Idade - que tem bolinha vermelha por abordar temas,..., hum,...., como direi,.... fracturantes! E sim, também tem muita ironia. ;)

Fica um tema apropriadamente escolhido : cArNaVaL.







terça-feira, fevereiro 17, 2009

# CCLXXXVII - F&G

.
.
.


[Porto, Fev'09]



O melro

Está poisado no cedro e canta apenas
as penas e alegrias nupciais.
Amor e adeus. Encontro e despedida.


[Manuel Alegre]



------------------------------------------------------------


Ao som de La Llorona, pelos Devotchka :




domingo, fevereiro 15, 2009

# CCLXXXVI - Eu quero ser assim, como tu...

.
.
.
.

[Juan Muñoz, Serralves, Fev'09]




Por ocupações que vou permitindo que se imponham e/ou por outras que têm mesmo que ser, sinto que, às vezes, estou a perder algumas oportunidades de estar com os meus filhos.

Vou-me repetindo que, se estivesse muito mais presente, também corria o risco de os asfixiar, de não lhes permitir aprender a autonomia, a estar sós (sem sentirem solidão), a "matar" tempo...

Mas... far-me-ão o mesmo? Serão iguaizinhos a mim - e as suas vidas não os irão ocupar a ponto de me permitirem aprender a ser autónomo na velhice, a estar só, a "queimar" o tempo... ?




Cats in the Cradle - por Ugly Kid Joe [cover de Harry Chapin]

My child arrived just the other day
Came to the world in the usual way
But there were planes to catch and bills to pay
He learned to walk while I was away
He was talkin fore I knew it
And as he grew he said,
I'm gonna be like you, dad,
You know I'm gonna be like you.

Chorus:
And the cats in the cradle and the silver spoon,
Little boy blue and the man n the moon.
When you comin home?
Son, I don't know when. We'll get together then.
You know we'll have a good time then.



Well, my son turned ten just the other day.
He said, thanks for the ball, dad. Come on, let's play.
Could you teach me to throw?
I said, not today. I got a lot to do.
He said, that's okay.
And he walked away and he smiled and he said,
you know, I'm gonna be like him, yeah.
You know I'm gonna be like him.


Chorus

We'll, he came from college just the other day,
So much like a man I just had to say,
I'm proud of you. Could you sit for a while?
He shook his head and he said with a smile,
what I'd really like, dad, is to borrow the car keys.
See you later. Can I have them please ?

Chorus

I've long since retired, my sons moved away.
I called him up just the other day.
I'd like to see you, if you don't mind.
He said, I'd love to, dad, if I could find the time.
You see my new jobs a hassle and the kids have the flu,
But it's sure nice talkin to you, dad.
It's been sure nice talkin to you.
And as I hung up the phone it occurred to me,
He'd grown up just like me.
My boy was just like me.

Chorus




sábado, fevereiro 14, 2009

# CCLXXXV - ... um caso raro ...

.
.
.



[Esculturas de Juan Muñoz, Serralves, Fev'09]




Neste dia, manda o calendário que se celebre o amor.


O amor que se tem.


O amor que se teve.


O amor que se deseja.


O amor que se escapa, como finos grãos de areia, por entre os dedos...


José Jimenez foi um cantautor mexicano que o soube traduzir muito bem.

É também assombrosa, arrepiante e única a interpretação que Chavela Vargas faz deste tema.

Hoje, em que o amor faz negócio, deixo em partilha... o desamor.




DE UN MUNDO RARO
De José Alfredo Jiménez por Chavela Vargas


Cuando te hablen de amor y de ilusiones
y te ofrezcan un sol y un cielo entero
si te acuerdas de mi no me menciones
porque vas a sentir amor del bueno.


Y si quieren saber de tu pasado
es preciso decir una mentira
di que vienes de allá de un mundo raro
que no sabes llorar
que no entiendes de amor
y que nunca has amado.

Porque yo adonde voy
hablaré de tu amor
como un sueño dorado,
y olvidando el rencor
no diré que tu adiós
me volvió desgraciado.


Y si quieren saber de mi pasado
es preciso decir otra mentira,
les diré que llegué de un mundo raro,
que no se del dolor,
que triunfe en el amor
y que nunca he llorado.



domingo, fevereiro 01, 2009

# CCLXXXIV - Che mi manca!

.
.
.


[Dias e almas cinzentas - nostalgias presentes! - Douro, Março 2007]




Em dias de chuva, carregados de cinzentos, o sofã e o comando atraem mais que o costume. Já não te satisfazem o zapping nem os livros em que desfilam as vidas d'outrém enquanto sentes a tua (que, reconhece, acaba por ser uma espécie de vida) suspensa num interregno claustrofóbico.
A colecção de filmes por ver vai aumentando pois regressas ao mesmo de sempre. Já sabes de cor as falas, os gestos, as pausas... a altura em que te escorre a primeira lágrima. Solta-se sempre naquela cena. Quanto ao momento de parar, esse é que varia.
E regressas à música. A que toca, há já alguns dias, em mode repeat no leitor do teu carro. A voz é melodiosa. A língua bellissima - sempre gostaste do italiano, essa é que é a verdade.
Coisas que não explicas. Que simplesmente sentes. E é assim que deve ser - digo-to eu.


[P.S. - Olha que a versão em dueto com a Laura Pausini também não "vai" nada mal...]


Non Me Lo So Spiegare
Tiziano Ferro


Un po' mi manca l'aria che tirava
O semplicemente la tua bianca schiena..nananana
E quell'orologio non girava
Stava fermo sempre da mattina a sera.
come me lui ti fissava
Io non piango mai per te
Non farò niente di simile...nononono
Si, lo ammetto, un po' ti penso
Ma mi scanso
Non mi tocchi più

Solo che pensavo a quanto è inutile farneticare
E credere di stare bene quando è inverno e te
Togli le tue mani calde
Non mi abbracci e mi ripeti che son grande,
mi ricordi che rivivo in tante cose...nananana
Case, libri, auto, viaggi, fogli di giornale
Che anche se non valgo niente perlomeno a te
Ti permetto di sognare
E se hai voglia, di lasciarti camminare
Scusa, sai, non ti vorrei mai disturbare
Ma vuoi dirmi come questo può finire?
Non melo so spiegare
Io no me lo so spiegare

La notte fonda e la luna piena
Ci offrivano da dono solo l'atmosfera
Ma l'amavo e l'amo ancora
Ogni dettaglio è aria che mi manca
E se sto così..sarà la primavera..
Ma non regge più la scusa...

Solo che pensavo a quanto è inutile farneticare
E credere di stare bene quando è inverno e te
Togli le tue mani calde
Non mi abbracci e mi ripeti che son grande,
mi ricordi che rivivo in tante cose...nananana
Case, libri, auto, viaggi, fogli di giornale
Che anche se non valgo niente perlomeno a te
Ti permetto di sognare..
Solo che pensavo a quanto è inutile farneticare
E credere di stare bene quando è inverno e te
Togli le tue mani calde
Non mi abbracci e mi ripeti che son grande,
mi ricordi che rivivo in tante cose...nananana
Case, libri, auto, viaggi, fogli di giornale
Che anche se non valgo niente perlomeno a te
Ti permetto di sognare
E se hai voglia, di lasciarti camminare
Scusa, sai, non ti vorrei mai disturbare
Ma vuoi dirmi come questo può finire?