(Amarelas. Há-as amarelas!)
- A natureza é fantástica - dizias enquanto confessavas o quanto gostas de buganvílias e o teu pensamento ainda se encontrava surpreso pelo Situs Inversus Totalis. Ficaste a saber que aquelas flores que te trazem prisioneiro o olhar são azáleas.
Depois falei-te das magnólias. Das brancas, das cor de rosa e das estreladas que já conhecias.
Trouxe-te OUTRA novidade: também as há amarelas.
das magnólias
Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página
E aproveito o facto de teres chegado agora
Para te explicar como vejo o crescer de uma magnólia.
A magnólia cresce na terra que pisas — podes pensar
Que te digo alguma coisa não necessária, mas podia ter-te dito, acredita,
Que a magnólia te cresce como um livro entre as mãos. Ou melhor,
Que a magnólia — e essa é a verdade — cresce sempre
Apesar de nós.
Esta raiz para a palavra que ela lançou no poema
Pode bem significar que no ramo que ficar desse lado
A flor que se abrir é já um pouco de ti. E a flor que te estendo,
Mesmo que a recuses
Nunca a poderei conhecer, nem jamais, por muito que a ame,
A colherei.
A magnólia estende contra a minha escrita a tua sombra
E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão
Daniel Faria, in Dos Líquidos
[Song for Che - Robert Wyatt]