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(Dezembro de 2007, para alguns era Natal)
Num dos cafés chiques, duma zona bem do Porto. Dezembro, frio nas ruas e tempo de Natais.
O miúdo vai percorrendo as mesas do café, deixando o olhar enorme em cada rosto que fixa. Tenta vender pensos (tentará comprar algum Natal?). Alguém mais sensível deita-se à conversa com ele. Se tem fome, pergunta-lhe. Se quer alguma coisinha para comer, insiste. Que não, que não... que só quer vender pensos. E a alma sensível quer saber o preço dos pensos. E dá-lhe a moeda pretendida - mas não quer os pensos. Conta-lhe que assim ganha a dobrar - porque pode vender depois os pensos a outros. O miúdo, do alto da sua dignidade, recusa. E obriga a alma sensível a ficar com os pensos.
Alguém aproveita a ocasião e prende para sempre aquele olhar numa foto. A sorrir para o miúdo, dá-lhe a ver o lindo que ficou. Na sua cabeça, a voz da Isabel Silvestre canta-lhe "E o menino lindo, não nasceu p´ra fazer mal".
... que não haja "soldadinhos" nestas guerras. É isso que desejo para 2008!
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A ronda do soldadinho (José Mário Branco)
Um e dois e três / era uma vez um soldadinho / de chumbo não era / como era o soldadinho / Um menino lindo / que nasceu, num roseiral / E o menino lindo / Não nasceu p'ra fazer mal / menino cresceu / Já foi à escola de sacola / Um e dois e três / Já sabe ler sabe contar / Menino cresceu / Já aprendeu a trabalhar / Vai gado guardar / Já vai lavrar e semear.
Um e dois e três / era uma vez um soldadinho / de chumbo não era / como era o soldadinho / Menino cresceu / Mas não colheu de semear / Os senhores da terra / O mandam p'ra guerra / morrer ou matar / Os senhores da guerra / Não matam, mandam matar / Os senhores da guerra / não morrem, mandam morrer / E a guerra é p'ra quem / nunca aprendeu a semear / É p'ra quem só quer / mandar matar, para roubar
Um e dois e três / era uma vez um soldadinho / de chumbo não era / como era o soldadinho / Dancemos meninos / a rosa no rodeiral / que os meninos lindos/ não nascem p'ra fazer mal / Soldadinho lindo / era o rei da nossa terra / fugiu para França / P'ra não ir morrer na guerra / Soldadinho lindo / era o rei da nossa terra / fugiu para França / P'ra não ir matar na guerra...