(Na feira Agrival, em Penafiel, sábado pela noitinha)
Sempre gostei do Vitorino. Das suas canções e da sua postura, enquanto músico/cantor português e enquanto defensor da música portuguesa.
Dei por bem empregue a ida à feira da agricultura - não vi nada da feira, só o concerto.
Quando cantava as canções mais populares, a massa assistente entoava ao mesmo tempo e chegava a arriscar uns passos de dança. Mas quando tentava cantar uma canção mais paradita, menos popular, havia sempre uma debandada de uns quantos...Ele, atento, referiu isso mesmo. E sugeriu que se fizesse um esforço para se ouvir:
- "A música portuguesa não passa na rádio nem na televisão. Há que ouvir, para se conhecer, para se apreciar".
E notou uma árvore pikena, em frente ao palco, que deixava um espaço aberto de pessoas atrás de si (atrás da árvore não se via o cantor!).
Entre muitas e boas canções, cantou este "Fado da prostituta da rua de Sto. António da Glória", com letra de António Lobo Antunes e música do próprio Vitorino. Foi um momento baixo do espectáculo. A tal debandada... Eu gostei muitíssimo de o ouver, neste tema.
-----Fado da prostituta da rua de Sto. António da Glória
Minha nau com dois corvinhos
Meu mosteiro à beira mar
Acordeão de ceguinhos
Agulha de marcar
Minha promessa de cera
Meu poente sobre o rio
Oh minha folhinha de hera
Pesponto do casamento
Minha santa Filomena
Meu fio de ouro quebrado
Minha rolinha de empena
Afago de namorado
Minha andorinha de louça
Pendurada da janela
Oh meu sorriso de moça
Minha lágrima de vela
Meus seinhos de mulher
Cornichos de Satanás
Se me derem a escolher
Vida ou morte...tanto faz!
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