sábado, março 29, 2008

# CCXL - Magnólias I


(Amarelas. Há-as amarelas!)


- A natureza é fantástica - dizias enquanto confessavas o quanto gostas de buganvílias e o teu pensamento ainda se encontrava surpreso pelo Situs Inversus Totalis. Ficaste a saber que aquelas flores que te trazem prisioneiro o olhar são azáleas.

Depois falei-te das magnólias. Das brancas, das cor de rosa e das estreladas que já conhecias.

Trouxe-te OUTRA novidade: também as há amarelas.



das magnólias

Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página
E aproveito o facto de teres chegado agora
Para te explicar como vejo o crescer de uma magnólia.
A magnólia cresce na terra que pisas — podes pensar
Que te digo alguma coisa não necessária, mas podia ter-te dito, acredita,
Que a magnólia te cresce como um livro entre as mãos. Ou melhor,
Que a magnólia — e essa é a verdade — cresce sempre
Apesar de nós.
Esta raiz para a palavra que ela lançou no poema
Pode bem significar que no ramo que ficar desse lado
A flor que se abrir é já um pouco de ti. E a flor que te estendo,
Mesmo que a recuses
Nunca a poderei conhecer, nem jamais, por muito que a ame,
A colherei.

A magnólia estende contra a minha escrita a tua sombra
E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão



Daniel Faria, in Dos Líquidos





[Song for Che - Robert Wyatt]

segunda-feira, março 24, 2008

# CCXXXIX - Introspecção


(Senhora das Dores)



revitalizado o Jorge Palma, trouxeram-me, numa conversa, um dos seus temas marcantes.
e eu, que não cultivo Jorge Palma, concordei com a força do tema.
noutra voz. mais minha.
em partilha, Paulo Bragança no tema de Jorge Palma, Minha Senhora da Solidão.


Minha senhora da solidão
Minha senhora das dores
Quanto tempo falta para te ver sorrir
Quantas misérias ainda vais exibir
Quanto tempo mais vou ter de te ouvir queixar?

Minha senhora da solidão
Vê como o sol brilha hoje
Odeio ver-te sempre de luto
Gostava de ver o teu olhar enxuto
De descobrir alguma graça no teu andar

O teu crucifixo não me ilumina
O teu sacrifício não me pode fazer bem
Não é bom para ninguém
Oh não, não ajudas ninguém...

Minha senhora da solidão
Minha senhora dos prantos
Tens um "ai" encravado na boca
Que dia após dia te sufoca
Precisas bem mais do que uma simples oração

Minha senhora da solidão
Minha senhora das culpas
Tenho que evitar o teu contágio
Não quero mais saber do teu naufrágio
A praia esteve sempre ao alcance da tua mão

O teu crucifixo não me ilumina
O teu sacrifício não me pode fazer bem
Não é bom para ninguém
Oh não, não ajudas ninguém...







sábado, março 15, 2008

# CCXXXVIII - Absolut Diva

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[Reprodução, por estudante do 7.º ano de escolaridade, d'O grito, de Munch]

O Grito (no original Skrik, 1893) é uma pintura do norueguês Edvard Munch que representa uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero existencial. O pano de fundo é a doca de Oslofjord, em Oslo, ao pôr-do-Sol.

Amy Winehouse transmite, de si própria, esta mesma imagem. Pulverizada de excessos...

E... she is so fucking good!

Em escuta, fica uma versão, registada ao vivo em Londres, de um dos seus mais espantosos temas [que ritmo, que desenvolvimento, que cadência! E que voz!!!]:


"You Know I'm No Good"

Meet you downstairs in the bar and hurt,
Your rolled up sleeves in your skull t-shirt,
You say “what did you do with him today?”,
And sniffed me out like I was Tanqueray,
’Cause you're my fella, my guy,
Hand me your stella and fly,
By the time I'm out the door,
You tear men down like Roger Moore,

I cheated myself,
Like I knew I would,
I told you I was trouble,
You know that I'm no good,

Upstairs in bed, with my ex boy,
He's in a place, but I can't get joy,
Thinking on you in the final throes,
This is when my buzzer goes,
Run out to meet you, chips and pitta,
You say “when we married”,
'cause you're not bitter,
”There'll be none of him no more,”
I cried for you on the kitchen floor,

I cheated myself,
Like I knew I would,
I told you I was trouble,
You know that I'm no good,

Sweet reunion, Jamaica and Spain,
We're like how we were again,
I'm in the tub, you on the seat,
Lick your lips as I soak my feet,
Then you notice likkle carpet burn,
My stomach drops and my guts churn,
You shrug and it's the worst,
Who truly stuck the knife in first

I cheated myself,
Like I knew I would
I told you I was trouble,
You know that I'm no good,

I cheated myself,
Like I knew I would
I told you I was trouble,
Yeah, you know that I'm no good.






P.S. - Adoro este "I cheated myself / Like I knew I would"!!!!

terça-feira, março 11, 2008

# CCXXXVII - Fizemos HISTÓRIA

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[Tenho um neto a estudar / Confio nos professores / Não confio na burocracia do Ministério / E muito menos confio na Ministra] - Percebo sem dificuldade alguma...


[Pára / Ouve / Olha] - Parece tão simples, não é?


[A música que sabem dar...] - A orelhas (aparentemente, insistentemente e de forma autista) moucas.


[Dêem-me tempo para ser professor] - Não é pedir demais, não senhor!


[Respeito] - Pois...


[Sr.ª Ministra / os Pais estão com os Professores] - Pelos vistos, alguém perdeu mais do que os professores...


[De Portalegre vieram, com autocarros de Espanha...] - cada um com o seu tijolo!



Alguns apontamentos. A acompanhar, um cântico em jeito de oração...



[The Constant Gardener - Soundtrack - Kothbiro por Ayub Ogada]

sábado, março 01, 2008

# CCXXXVI - Resiliência, resistência ou 8 de Março

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Muito mais do que por mim... pelos meus filhos!

A 8 de Março, eu vou!


Por alguma razão é este o toque do meu telemóvel...

Um grupo português, uma descoberta recente...QUADRILHA!



À Força Não Hei-de Ir


Corpo a rebentar p´la terra que nos quer salvar
E o mundo não entende esta canseira
Custa-me a entender que é mesmo assim que tem de ser
E mandam-me aceitar queira ou não queira
Tanto hei-de dizer que alguém há-de entender

Que à força não hei-de ir, eu
À força não hei-de ir
Não há-de haver ninguém que dite o mal e o bem
Que à força não hei-de ir, eu
À força não hei-de ir

De pedra na mão se trava a força de um canhão
Batalha desigual que dói na alma
Força de um querer que o mundo afasta p’ra não ver

Mas sobra-me a razão que não se acalma
O tempo a passar, ouço a terra a gritar
À força não hei-de ir, eu
À força não hei-de ir
Não há tempo a perder que o mundo há-de entender
Que à força não hei-de ir, eu
À força não hei-de ir